19/05/09

Já lá vão dez anos!



Pois é, já lá vão dez anos! Ainda o digo com pompa porque só há pouco tempo me apercebi que o tenho dito mais vezes. Nas Caldas da Rainha, andava no segundo ano do curso de Artes Plásticas e morava com uns mafarricos bestiais, numa casa a que todos chamavam a Cova da Onça, onde do tecto de madeira caía um pó dourado cada vez que o autocarro passava lá fora. Coloco aqui esta imagem porque há tempos um amigo me dizia que não me conhecia pinturas propriamente ditas. Esta imagem é a digitalização da fotocópia da fotografia da pintura. Lembro-me destes dias como aqueles em que íamos para a escola ou para o café (era indiferente) com a cara por lavar e as promessas debaixo do braço ou dentro de um bornal e a pensar "Hoje é que vai ser!". Há muitas histórias desse tempo. As Caldas da Rainha foram também um lugar muito propenso a histórias nesse tempo. Para muita gente ao mesmo tempo aqueles dias tinham muito de novo - independência dos pais, viver ao sabor dos caprichos e estar rodeado de quem gosta do mesmo. Como cidade pequena, a sociabilidade era maior. Muitas histórias mesmo, imagine-se. A pintura acabei-a numa directa, e embrulhei-a para ir para uma Bienal de Cerveira logo de manhã, e fiquei a rezar para que aquilo não se tornasse abstracto na viagem país acima. Valeu o esforço, porque nesse ano ficámos eu e o Paulo Barros, com direito a convite para a inauguração e um catálogo que ainda hoje guardo religiosamente no caixote das primeiras mudanças. A criança na pintura é o meu irmão Francisco que tinha na altura 6 ou 7 anos. Daqui por ano e pouco será a vez dele, de viver a folia da independência. Lembro muitas coisas boas desse tempo. Lembro-me dele como a digitalização da fotocópia da fotografia de uma pintura.

12/05/09

II Encontro Nacional de Ilustração



Uma das três ilustrações que fiz para o II Encontro Nacional de Ilustração, em São João da Madeira, onde era pedido que se ilustrasse um conto russo intitulado "A minha mãe é a mulher mais bela do mundo". O evento terá lugar nos dias 14, 15 e 16 de Maio com um programa distribuído por vários pontos da cidade. Apareçam!

05/05/09

Hipóteses Homicidas e Anedotas Hipotéticas





A Estória da Vaca e do Pisco
ou
O Maior Peido do Mundo.

Saiba-se doravante, quando se falar de uma vaca e de um pisco, que quem fala se refere àquela ocasião em que havia uma Vaca manhosa que afirmava que mais que todos tinha a capacidade de comer, e vaidosa, dizia ainda que mais viçosa e mais gorda que todos era, e mais ainda se tornaria. Toda a manada se acreditava no que ela dizia, até porque a Vaca lhes parecia a todos, do dia para a noite, cada vez mais opulenta. Mas a verdade é que a Vaca não só comia erva e raízes tanto como todas as outras, como também engolia golfadas de ar que lhe iam para o estômago e restantes vias digestivas. Manhosa como era, peidava-se à noite e esforços fazia para que apenas saíssem bufas, das que saem sem barulho, quando todos dormiam.
Foi por alturas do verão, quando os dias são maiores que as noites, a Vaca inchada do ar, que engolia para enganar, e a noite que nunca mais vinha, com as tripas inchadas que já lhe saíam à rectaguarda como um balão, poisou-lhe no dorso um Pisco de peito dourado. Como sempre, vinha à cata de lêndeas e piolhos para regozijo da Vaca, tanto mais que lhe caía bem neste sofrimento o alívio das comichões. Por isso, o Pisco passeou-se à vontade por todo o lombo da Vaca, depenicando os pequenos vermes. Tanto se passeou até que lhe chegou junto da base da cauda, picou-a tão perto das hemorróidas que estavam de fora por força das tripas inchadas, que a Vaca num impulso sacudiu-se de dor e lançou com a cauda uma chibatada tal, que acertou em cheio no Pisco, que foi enterrar o bico na tripa inflada e a Vaca estoirou.