21/09/09

Figura Eminente 2009: Henrique Pousão redesenhado na Reitoria



"Nome incontornável na História da Arte portuguesa, Henrique Pousão (1859 - 1884) viu a sua obra interrompida precocemente aos 25 anos. A partir de quinta-feira, 17 de Setembro, é esse espaço em branco que 14 jovens artistas, todos eles com passagem pelos mestrados em Desenho da Faculdade de Belas Artes (FBAUP), vão procurar colmatar com "Desenho em reserva", a exposição/homenagem que a Universidade do Porto irá dedicar ao pintor portuense, protagonista em 2009 do ciclo Homenagens a Figuras Eminentes da U.Porto.

Depois de ter instituído 2009 como o Ano de Pousão, assinalando desta forma, os 150 anos sobre o nascimento do pintor, a U.Porto prepara-se para reforçar o tributo a um dos seus mais ilustres antigos alunos. Natural de Vila Viçosa, Henrique Pousão formou-se em Desenho Histórico, Arquitectura Civil, Escultura e Pintura Histórica na Academia Portuense de Belas-Artes, antecessora da FBAUP, cujos espaços guardam ainda hoje boa parte do espólio artístico do pintor.

Será então partir do traço de 14 dos seus "sucessores" em Belas Artes que a memória de Henrique Pousão vai ser recordada nos espaços da Sala do Fundo Antigo da Reitoria da U.Porto (Praça Gomes Teixeira, Porto). A exposição inclui vários trabalhos concebidos em torno da 'reserva', conceito que designa, no campo da imagem, os espaços que são deliberadamente deixados em branco. Fica dado o mote para um conjunto de desenhos e instalações de vídeo a partir das quais o visitante será desafiado a entrar em "diálogo" com o desenho enquanto prática artística mas também espaço de investigação, tal como Pousão o antecipara há um século e meio atrás.

É essa contemporaneidade do pintor que a U.Porto celebra agora, juntando o nome de Henrique Pousão à galeria de Figuras Eminentes distinguidas desde 2003. Entre os homenageados estão o médico Abel Salazar, o arquitecto José Marques da Silva, o historiador Artur de Magalhães Basto, o zoólogo Augusto Nobre, os professores Stephen Stoer e Manuela Malpique, e o nutricionista Emílio Peres.

Marcada para as 18h30 de quinta-feira, a inauguração de "Desenho em reserva" vai contar com a presença dos vários artistas convidados, que estarão disponíveis para falar sobre os respectivos trabalhos. Depois deste primeiro momento, a exposição estará aberta ao público até 15 de Outubro, de terça a sexta-feira, entre as 12 e as 18 horas, e ao sábado, das 10 às 18 horas.

A entrada é livre."

Estamos lá! (Texto retirado do sítio da UP)

19/09/09

A função reguladora do masoquismo



Trabalho efectuado para a Brandia Central - Lisboa. O seu processo foi uma dessas epopeias de 14 horas a riscar. Quando se ilustra para publicidade é comum sermos obreiros da nossa especificidade gráfica. É também comum uma primeira versão do trabalho ter de ser negociada e rectificada vezes sem conta, multiplicando-se em várias versões. Pessoalmente, não vejo grande problema em que definam por mim todas as premissas do trabalho, esporadicamente como é óbvio.
Quando se inicia um projecto ou simples trabalho de demanda pessoal, o mais difícil é estabelecer os primeiros argumentos (muitas das vezes visuais) a partir dos quais o trabalho desenvolve. Qualquer coisa como o célebre terror da folha branca. Por vezes essas premissas surgem de um modo espontâneo, e outras temos de vadiar um pouco sobre o papel ou bloco de notas para que certa ideia se torne visível.
É frequente os artistas tornarem-se zelosos com a sua coerência. Algo que viole as primeiras premissas de um trabalho pode ser visto com alguma animosidade. Eu próprio sou bastante ditador em pensamento, e já tive algumas dificuldades de cooperação. Julgo que o truque está em adquirir uma ginástica que permita construir casas a partir de qualquer planta.
Como há já bastante tempo que não trabalho em cooperação, tenho-me tornado um ditador intragável. Nos livros ainda negocio decisões com o escritor ou com o editor, mas faz agora quase um ano que não participo em nenhum.
Trabalhar para publicidade é algo completamente diferente. Vejo-o como um tratamento para a tosse. Apesar do devido respeito com que me têm tratado, em publicidade não mando nada e sou um servo amordaçado. Tenho de fazer assim e assado sem resmungar. O reverso da medalha é naturalmente mais convidativo: muitos freelancers que trabalham em publicidade ganham mais numa noite, que um criativo da casa numa semana ou duas. Mas porque o faço senão pelo dinheiro? Não só pelo prazer que dá colocar no papel uma ideia que não minha. O masoquismo tem uma função reguladora do sentimento de poder. Nada como ser lembrado de tempos a tempos o quão ilusória é a sensação de controlo.