Trabalho efectuado para a Brandia Central - Lisboa. O seu processo foi uma dessas epopeias de 14 horas a riscar. Quando se ilustra para publicidade é comum sermos obreiros da nossa especificidade gráfica. É também comum uma primeira versão do trabalho ter de ser negociada e rectificada vezes sem conta, multiplicando-se em várias versões. Pessoalmente, não vejo grande problema em que definam por mim todas as premissas do trabalho, esporadicamente como é óbvio.
Quando se inicia um projecto ou simples trabalho de demanda pessoal, o mais difícil é estabelecer os primeiros argumentos (muitas das vezes visuais) a partir dos quais o trabalho desenvolve. Qualquer coisa como o célebre terror da folha branca. Por vezes essas premissas surgem de um modo espontâneo, e outras temos de vadiar um pouco sobre o papel ou bloco de notas para que certa ideia se torne visível.
É frequente os artistas tornarem-se zelosos com a sua coerência. Algo que viole as primeiras premissas de um trabalho pode ser visto com alguma animosidade. Eu próprio sou bastante ditador em pensamento, e já tive algumas dificuldades de cooperação. Julgo que o truque está em adquirir uma ginástica que permita construir casas a partir de qualquer planta.
Como há já bastante tempo que não trabalho em cooperação, tenho-me tornado um ditador intragável. Nos livros ainda negocio decisões com o escritor ou com o editor, mas faz agora quase um ano que não participo em nenhum.
Trabalhar para publicidade é algo completamente diferente. Vejo-o como um tratamento para a tosse. Apesar do devido respeito com que me têm tratado, em publicidade não mando nada e sou um servo amordaçado. Tenho de fazer assim e assado sem resmungar. O reverso da medalha é naturalmente mais convidativo: muitos freelancers que trabalham em publicidade ganham mais numa noite, que um criativo da casa numa semana ou duas. Mas porque o faço senão pelo dinheiro? Não só pelo prazer que dá colocar no papel uma ideia que não minha. O masoquismo tem uma função reguladora do sentimento de poder. Nada como ser lembrado de tempos a tempos o quão ilusória é a sensação de controlo.
19/09/09
A função reguladora do masoquismo
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1 comentário:
"tratamento para a tosse" parece-me uma boa metáfora :)
[...o resultado não deixa de ser excelente]
abraço
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